No armário do meu quarto escondo de tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto.
É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.
É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.
(Adélia Prado)
--- Por que nos prendemos tanto às coisas que nos rodeiam? Nós lhe atribuímos significados especias, seu toque nos faz recordar momentos preciosos e/ou dolorosos, nos sentimos vazios quando eles nos faltam... Aos nossos olhos transformamos simples objetos em símbolos, símbolos de momentos perdidos, de instantes vividos, nos sentimos protegidos, nos sentimos inteiros... Isso é interessante, mórbido e ao mesmo tempo resguarda tanta vida....----
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